A new poetry book published in Portugal with strong Emily Brontë echoes:
Ventos Borrascosos
Fernando Guerreiro
100 Cabeças
November 2019
Jornal I Digital interviews the author:
Ventos Borrascosos tem um elemento discursivo muito forte, uma condição teórica evidente, e é como se o poema fosse algo que se realiza no seu seio.
Na concepção deste livro houve algumas influências decisivas. A primeira foi a ideia do desenvolvimento do monólogo dramático. Algo entre o diálogo e o monólogo. Tinha já publicado poemas dramáticos... De resto há uma coisa que sempre se manteve: escrevo muito em função do som. Tenho certas obsessões sonoras, fonéticas quase. Vai-se escrevendo sendo guiado pelo que se quer dizer, mas, depois, o que vai rearranjando e decide o processo de cristalização do poema é uma espécie de construção acústica. Isto era até mais determinante no livro Fractus Vocis, que é um diálogo dramático entre um padre exorcista e uma monja possuída (isto a partir de referências históricas), e um livro que é uma expansão da ideia de um poema dramático que é este Herodíadas, que é a velha cena do triângulo: Herodíades, Salomé e São João Baptista. E se este novo livro tem a ver com a continuação dessa experiência, a tentativa de escrever um poema/ diálogo dramático, por outro tem a ver com a noção de romance, isto no sentido dos românticos alemães... Novalis... Um tipo de poesia em que cai o mundo. Não procura representar o mundo, como o romance em prosa, de um modo geral, pretende fazer, representando uma época histórica, a vida de um personagem, etc., a ideia aqui foi trabalhar a linguagem como o lugar onde a matéria, o peso do mundo, como se fosse um meteorito, cai e traz consigo uma porção nova, estranha, da história do cosmos. É romance nesse sentido em que caiu ali o mundo... O mundo cai às costas da trama suportada pelo romance da Emily Brontë, e isso produz efeitos no indivíduo que escreve e na linguagem. Portanto, tem a ver com esse efeito de reverberação cósmica, em que a linguagem está em convulsão tal como o cosmos. Isso é real. A ideia foi criar o real, que é algo dessa ordem impura, híbrida, feita de gestos, suores, palavras... (Translation)
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