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Thursday, November 07, 2013

Thursday, November 07, 2013 12:30 am by M. in , ,    No comments
A new Portuguese translation of Jean Rhys's Wide Sargasso Sea has just appeared in Brazil:
Vasto Mar de SargaçosJean Rhys
Translation: :Lea Viveiros de Castro
Editora Rocco
ISBN:978-85-325-2777-6

Antoinette Cosway é uma bela e sedutora mulher que chama a atenção de todos que a vislumbram. Seu magnetismo é tamanho que rivaliza com as paisagens paradisíacas da ilha da Jamaica, onde vive. Em 1830, o local ainda vive sob domínio do Império Britânico, cuja cultura, marcada pela Era Vitoriana, reprime com força e crueldade qualquer expressão de feminilidade, relegando a mulher a segundo plano na sociedade. Antoinette ainda não sabe, mas passará a viver um conflito entre a mulher que é e a que deve ser quando conhece um jovem inglês com quem se casará. Um conflito que a levará, paulatinamente, à loucura.
Vasto mar de sargaços é a obra-prima da escritora antilhana Jean Rhys. Nascida em 1890, Rhys iniciou sua carreira literária ao final da década de 1920, com uma coletânea de contos e quatro romances que não lhe trouxeram especial consagração. Em seguida, entrou num período de reclusão que durou mais de 20 anos. Foi neste ínterim, que seu Vasto mar de sargaços (o Mar de Sargaços – nome de uma espécie de alga – é uma imensa região do Oceano Atlântico, próxima ao Caribe) começou a ganhar vida, depois que a autora terminou a leitura do clássico vitoriano Jane Eyre, de Charlotte Brontë. Jean ficara impressionada com uma das personagens: Bertha Antoinette Mason, a “louca do sótão”, a primeira mulher de Edward Rochester, interesse amoroso da protagonista. Bertha era uma mulher caribenha vivendo na Inglaterra, com todas as dificuldades originadas desse choque entre culturas.
Se, no romance original, Bertha era apenas uma voz sufocada no sótão, Jean Rhys resolve colocá-la em primeira plano. Vasto mar de sargaços funciona como uma “introdução” a Jane Eyre, uma proposta de releitura do clássico britânico, com muito da visão inconformista da eternamente estrangeira Rhys. Publicado originalmente em 1966, o romance refletiu a preocupação com a questão feminina, a colonização e o choque cultural. Antoinette/Bertha é a mulher cuja natureza exuberante foi reprimida por toda uma cultura. Não seria sua loucura uma consequência dessa prisão sem grades? Afinal, a moral vitoriana preconizava que todos os impulsos, principalmente os sexuais, deveriam ser controlados com rigor. À mulher, restava submeter-se, em todos os sentidos, ao marido.
A beleza exótica e a voluptuosidade inocente de Antoinette, que a princípio eram vistas como qualidades inexistentes nas jovens inglesas, e que impressiona seu futuro marido quando chega à Jamaica, tornam-se, com o tempo, sua ruína. Fofocas, intrigas e rumores sobre a história de vida e as virtudes de Antoinette transformam o amor de Edward pela mulher em puro ódio. Logo rebatizada de Bertha pelo marido – uma tentativa de despi-la de sua identidade anterior e de forçá-la a assumir uma nova, mais cordata e submissa, adequada ao padrão vigente da época –, Antoinette não resistirá à pressão e seguirá, aos poucos, em direção à loucura que vai tornar sombria sua vida nos anos que virão.
É a essa loucura, gerada pelo choque entre culturas vivido pela personagem, que Jean Rhys se dedica em Vasto mar de sargaços. Na obra, “há menos da criação de Brontë e mais da visão inconformista de Rhys”, destaca a editora Vivian Wyler na orelha do livro. Segundo a editora, Antoinette/Bertha sintetiza à perfeição as personagens que norteiam a literatura de Jean Rhys, cuja obra “marcada por tal modernidade, senso de observação flâneur e emprego de fragmentos de sua própria vida como base textual” vem se mostrando campo privilegiado para sucessivos estudos à luz do feminismo, do pós-colonialismo e da autoficção.
Via Leituras Brontëanas.

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